Dedico esse texto a companhia de dança Hibridus, um espaço de criação ao artista e aos meus amigos e companheiros de dança Lorena Zanoti, Calebe Bastos, Lorena Ferreira, Gessé, Juarez, Maxwell, Maria Clara e Murilo.
Claro a nossa professora, amiga que nos ensinou um pouquinho da arte de viver: Katia Rozato.
Sempre gostei das palavras, aprendi que com elas posso fazer
qualquer coisa, algumas letras e componho cartas, componho sentimentos,
componho minha vida que acaba transitando entre a verdade de viver e a duvida
de estar vivo.
Nunca quis programar os atos que iriam construir o que eu
sou ou estou hoje. Apenas aprendo todo dia a me jogar do prédio e ver onde vou
cair.
Subi aquelas escadas, despretensiosamente, não era para a
direita que deveria seguir, mas sim para o lado oposto que remetia a boa forma;
meus olhos desviaram o foco, e apenas entrei.
As primeiras sensações são sempre únicas, a primeira
formação na memoria dos rostos tão diferentes do meu, as novas vozes que
confundiam a minha própria voz, a verdade e beleza de movimentos que não eram
meus, e minhas mãos escondidas com medo de tentar.
Volto para casa, às vozes desaparecem, mas uma fica e canta
algo que diz para eu parar, ela diz não ser para mim, ela quer que não seja para
mim, ela diz que eles são melhores, andam e tocam as coisas perfeitamente e
pergunta sobre mim. Fico calada, não tenho resposta para quem me perturba.
Em uma terça grito que posso, desafio o eu que quer me
vencer. Caio, caio, caio, não dói o corpo, mas a alma sinto-me pequena e
escondo-me no sorriso de boa tarde. Começo a lutar então e sofro a cada golpe.
Percebo que minhas pernas me traem e querem ser outras pernas daqueles que não
caem.
Paro e dou uma volta no mundo, não é meu o coração que vibra
com as melodias? Não é meu o corpo que apesar de cair levanta logo em seguida? Não
são minhas as mãos que exibem diferença, mas sem medo? Não são meus os
sentimentos?
Percebo que as pernas que invejava também caem e começo a
gostar do meu jeito de viver.
Fecho os olhos daqueles que me enfraquecem e amo os que
comigo dividem.
A dança não é para os bonitos, para os perfeitos, para
aqueles que pulam mais alto. Mais é para
aqueles que ainda querem viver, depois de confrontar a dança ela diz que é para
mim, que sempre foi para mim... E o medo já não era certeza.
Nunca vou ser o que querem que eu seja, nem nasci como minha
mãe esperou, mas a dança diz que isso é para mim, ela me acolhe e envolve-me.
Não me pede perfeição, me pede um pedaço do imenso de minha alma.
Não foi fácil ver isso e ainda pela madrugada encolho e
quero descer as escadas, mas sou maior do que aquele que me comprime.
Pensei que dançar era o movimento exato do corpo, um jogo
matemático que somava acertos e multiplicava erros, mas vi que dançar é uma
simples expressão da vida e a vida carrega tanto erros como acertos. Esqueci
então de acertar e não vi mais meus erros, porque a dança não quer ouvir minhas
explicações.
Aprendi com a voz de quem me ensina e ela diz que não e
corpo, não é membro, mas é fôlego é apenas viver e isso é difícil. Porem quem
te garantiu que viver era fácil? Todo dia é tempo.
Hoje eu caminho, não descobri os tantos mundos que a dança
me mostrou, ainda volto para tocar o chão, tenho medo de voar e não voltar
nunca mais, mas caminho, me aceito, transponho limites que me impuseram um dia e
faço do meu dia um momento para entrar dentro de mim e fazer melhor. Cair agora
não me diminui, mas dilata meus sentidos e abrasa as feridas que o ficar de pé
causa.
Caio, caio e caio e
me levanto sabendo que o importante não e saber dançar, o gostoso é querer
sonhar.