Como é ser um último?
Como viver um último?
Como é pensar num último?
Às vezes paro e vejo que só eu parei, o tempo corre rápido, cazuza dizia que ele não parava e as pessoas sabem disso, fazem as coisas conforme as convenções,estudam, namoram, casam, fazem engenharia e buscam os melhores empregos, seguem uma corrente, um elo que os faz presos, querem dinheiro, porque sem dinheiro não tem felicidade, os ricos são felizes afinal, têm dinheiro para o rivotril e o gadernal.
E assim se segue, é fácil viver então, as coisas já estão programadas; nascer, brincar de ser criança, estudar, virar homem, ter emprego, algum dinheiro para casar e ter filhos, ensina-los a sequência da vida e no final morrer, no meio disso tudo umas loucuras de adolescente, um porre de cachaça barata, uma decisão de ser serio, algumas lágrimas e sorrisos. Esta pronta à vida.
E para os últimos? Como se vive?
Aqueles que nascem no dia da ideologia, que não tem a bendita programação de viver, não querem ter dinheiro e nem aparência, gostam de chuva, gostam de mato; alternativos, frutos do sistema falido, desgraçados? Acho que apenas os últimos.
Não querem os compromissos rotineiros, dormem tarde, tomam porres e porres e riem disso, ou não tomam porres, mas riem assim mesmo, não possuem títulos, possuem gostos, fazem de sua essência, um modo de vida.
Às vezes não casam, às vezes não tem dinheiro, às vezes não fazem engenharia, às vezes nem estudam, mas não se sentem menores, tomam o livre arbítrio para si e o usam até a última gota, experimentam quase tudo da vida, porque às vezes não acham o tudo, a vida esta nua para eles, branca e pede para ser escrita, não na ordem, mas com escritas tortas, tropeçando com as palavras da próxima pagina.Às vezes contravenções à meia noite, um céu estrelado a uma da madrugada,encontros escondidos as três, o vibrar pulsante do prazer as quatro, o profundo estado depressivo perto das cinco, o quebrar do relógio a seis, afinal porque contar o tempo.
Os últimos são assim, se procuram entre tantos que também nasceram junto com eles, mas não estão com eles. Encontram-se na boa receita do acaso e festejam isso com um doce, chocolate ou não. Os últimos não envelhecem, nem são crianças pra sempre, permeiam pelo tempo que a memoria cria, não tem sexo, são homens mulheres e às vezes os dois; não tem preconceito algum, se isso é possível, às vezes tem tanto que se perdem no exagero, alguns tem uma alma sensível, mas outros não e nem por isso são ruins. Os últimos não possuem o único, muito menos a dualidade, buscam a felicidade na pluralidade, não vivem com um, pois existem os vários para gostar. Às vezes choram por ver que estão em uma maré diferente, e remam em direções diferentes dos que estam próximos, e riem por isso acontecer. Às vezes se sentem melhores e consideram o resto medíocre, porem às vezes se sentem tão piores e sozinhos que acabam também no rivotril e gadernal.
Sonham com a inteligência dos grandes e não enxergam os pequenos, porque para eles todos pequenos possuem grandezas, são profundos em suas considerações, em suas ideias,não diminuem o tamanho do que pode ser imenso. Aumentam as proporções das experiências, das vivências e até do sofrimento.
Escapam às vezes com a maconha, às vezes com a dança, às vezes com musica, outras usando os livros, Até mesmo com Deus, mas escapam. Às vezes por minutos ou por horas inteiras e quando não escapam apenas dormem. E acordam cansados, pois buscaram e não acharam.
E quem são os últimos? É uma tribo, um grupo seleto, tem a marca ou sinal que os separem dos demais?
Pensei nisso, muitos pensam nisso escutando musica ou em um silencio só e só sei que penso que são gentes. Gentes com todas as ascensões e decadências das gentes.
Gentes que tentam viver e acabam fazendo de suas vidas uma tentativa, varias tentativas,às vezes até morrer, às vezes até depois da morte, pois para os últimos quando acaba não termina, mesmo no fim.