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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

PARA quem dança


Dedico esse texto a companhia de dança Hibridus, um espaço  de criação ao artista e aos meus amigos e companheiros de dança Lorena Zanoti, Calebe Bastos, Lorena Ferreira, Gessé, Juarez, Maxwell, Maria Clara e Murilo.

 Claro a nossa professora, amiga que nos ensinou um pouquinho da arte de viver: Katia Rozato.

 Sempre gostei das palavras, aprendi que com elas posso fazer qualquer coisa, algumas letras e componho cartas, componho sentimentos, componho minha vida que acaba transitando entre a verdade de viver e a duvida de estar vivo.
Nunca quis programar os atos que iriam construir o que eu sou ou estou hoje. Apenas aprendo todo dia a me jogar do prédio e ver onde vou cair.
Subi aquelas escadas, despretensiosamente, não era para a direita que deveria seguir, mas sim para o lado oposto que remetia a boa forma; meus olhos desviaram o foco, e apenas entrei.
As primeiras sensações são sempre únicas, a primeira formação na memoria dos rostos tão diferentes do meu, as novas vozes que confundiam a minha própria voz, a verdade e beleza de movimentos que não eram meus, e minhas mãos escondidas com medo de tentar.
Volto para casa, às vozes desaparecem, mas uma fica e canta algo que diz para eu parar, ela diz não ser para mim, ela quer que não seja para mim, ela diz que eles são melhores, andam e tocam as coisas perfeitamente e pergunta sobre mim. Fico calada, não tenho resposta para quem me perturba.
Em uma terça grito que posso, desafio o eu que quer me vencer. Caio, caio, caio, não dói o corpo, mas a alma sinto-me pequena e escondo-me no sorriso de boa tarde. Começo a lutar então e sofro a cada golpe. Percebo que minhas pernas me traem e querem ser outras pernas daqueles que não caem.
Paro e dou uma volta no mundo, não é meu o coração que vibra com as melodias? Não é meu o corpo que apesar de cair levanta logo em seguida? Não são minhas as mãos que exibem diferença, mas sem medo? Não são meus os sentimentos?
Percebo que as pernas que invejava também caem e começo a gostar do meu jeito de viver.
Fecho os olhos daqueles que me enfraquecem e amo os que comigo dividem.
A dança não é para os bonitos, para os perfeitos, para aqueles que pulam mais alto.  Mais é para aqueles que ainda querem viver, depois de confrontar a dança ela diz que é para mim, que sempre foi para mim... E o medo já não era certeza.
Nunca vou ser o que querem que eu seja, nem nasci como minha mãe esperou, mas a dança diz que isso é para mim, ela me acolhe e envolve-me. Não me pede perfeição, me pede um pedaço do imenso de minha alma.
Não foi fácil ver isso e ainda pela madrugada encolho e quero descer as escadas, mas sou maior do que aquele que me comprime.
Pensei que dançar era o movimento exato do corpo, um jogo matemático que somava acertos e multiplicava erros, mas vi que dançar é uma simples expressão da vida e a vida carrega tanto erros como acertos. Esqueci então de acertar e não vi mais meus erros, porque a dança não quer ouvir minhas explicações.
Aprendi com a voz de quem me ensina e ela diz que não e corpo, não é membro, mas é fôlego é apenas viver e isso é difícil. Porem quem te garantiu que viver era fácil? Todo dia é tempo.
Hoje eu caminho, não descobri os tantos mundos que a dança me mostrou, ainda volto para tocar o chão, tenho medo de voar e não voltar nunca mais, mas caminho, me aceito, transponho limites que me impuseram um dia e faço do meu dia um momento para entrar dentro de mim e fazer melhor. Cair agora não me diminui, mas dilata meus sentidos e abrasa as feridas que o ficar de pé causa.
 Caio, caio e caio e me levanto sabendo que o importante não e saber dançar, o gostoso é querer sonhar.


7 PARA comentar:

alex disse...

Amei este texto. " O importante nao é saber dançar, o gostoso é querer sonhar", quantas lições podemos tirar desta frase.
Obrigado por compartilhar tantas coisas bonitas

beijão

Murilo Cruz disse...

Naty ...
Que lindo o seu texto, me emocionei de verdade. Tudo isso que a dança te passou, é um pouco do que me passa. Pensei que era meio que indescritível, mas você descreveu bem ... rs, um beijo. E nos vemos sempre.
Paz

Calebe Bastos disse...

Adorei o texto, tudo que vc falou é um pouco do que aprendemos nesses meses, que fomos forçados a nos deparar com as nossos dificuldades. Agradeço muito a todos que fizeram parte desse projeto. Esse aprendizado vou levar por toda a vida.

R. R. Barcellos disse...

Pouco entendo de dança, mas os pés feridos de minha filha eram sempre acompanhados por um brilho luminoso no olhar e uma alegria da alma que era contagiante. Após a maternidade, ela tem se dedicado mais à coreografia, mas a dança ainda é sua paixão.
Belo texto, parabéns.
Abraços.

Milla Carol disse...

quem não cai não levanta, se não levanta não não aprende a não cair de novo.
lindo aqi.
beijows com carinho.

O Misantropo disse...

Seu sentimento de dança é facilmente encaixado em outros paralelos da vida. Cair, levantar, medo do fracasso..
Excelente oportunidade visitá-la com esse belo texto.
Estou a seguindo também.

Abraços.

Anônimo disse...

belas palavras..que me causam inveja!

pois nunca aprendi a dançar!

bjs

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PARA quem passar! Obrigada

 
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