diHITT - Notícias PARAneura: novembro 2025
sábado, 15 de novembro de 2025 0 PARA comentar

PARA uma colcha de retalhos

Hoje, parei um instante e respirei.
Foi então que percebi: dentro de mim havia retalhos.
Muitos.

Retalhos de memórias, de tempos, de dores e de alegrias.

Tentei segurá-los entre as mãos, como quem tenta juntar tudo o que ama em um abraço só, mas eles eram diferentes demais para caber em uma única imagem de mim.
Alguns eram antigos, puídos, quase desfeitos pelo tempo.
Outros ainda guardavam manchas que não sei se foram de ferida ou de sobrevivência.
Havia também retalhos vivos, coloridos, tecidos nobres e brilhantes —
e todos estavam soltos, como se cada um contasse um universo particular.

Decidi então costurá-los.
Desejei fazer com eles uma colcha, como fazem aqueles que transformam restos em aconchego.
Mas a linha da vida é caprichosa:
em vez de unir, às vezes ela embaraça.

E meus retalhos seguiram independentes, como se não se encaixassem em lugar algum, em nenhuma forma, nem em um final único que coubesse no mesmo cobertor.

De vez em quando, revisito essa costura inacabada e penso:
“Talvez fosse mais fácil jogar tudo fora.
Talvez a razão tivesse ganho tempo.”

Mas quem já colocou os pés na lua sabe:
há quem não consiga voltar completamente para a terra.

Hoje — apenas hoje — decido ser mais delicada com meus retalhos.
Não exijo que se encaixem.
Não imponho que façam sentido.
Apenas os trato com carinho.

E, quem sabe, um dia, eu consiga transformá-los em uma colcha imperfeita, mas inteira —
uma colcha onde eu possa deitar, chorar, sonhar
e           enfim............................................

descansar!!!!

 
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