Ela voava e não sei bem como conseguia fazer proeza imensa
que todo mortal gostaria.
Navegava através de sua cintura, não com um olhar malicioso,
mas com a pureza que ela mesma me dava de presente. Sua presença era alva e seu
corpo falava línguas pagãs que eu entendia perfeitamente.
Sempre pensei que a veria como um corpo inteiro em
movimento, mas não era isso que a importava, seus membros se desconstruíam na
minha frente e caiam como plumas no solado de madeira, resolvi piscar os olhos
e em um instante o frenesi do que tocava tomou seu corpo e ela passou vibrante
por esse caminho de luzes.
Parei de tentar descobrir o que ela fazia, abri meus olhos e
vi uma mão que se estendia até mim, receoso imaginei estar dentro de um mundo
paralelo e gostei da ideia, apertei suas mãos e deixei que ela me mostrasse seu
pouso, me ensinasse como voar sem asas, queria estar com ela, sem o peso do que
está lá fora, apenas com a alegria da leveza que é estar aqui.
Pedi que me contasse seus segredos, que também me
desmontasse e que logo soprasse o fôlego da vida em mim.
Mas ela logo fugiu,
pois essa historia não era dela, construí castelos eretos olhando seus
movimentos e o vento os soprou para longe.
Quando dei por mim, quem voava era eu, quem sentia era eu,
quem respirava era eu, o morrer e o nascer me pertenciam, e a única coisa que
não possuía era o corpo, pois ele estava pairando sobre os que ainda não
voavam.
Aplausos me acordam e vejo a bela dona no palco saudando os
que a assistiam, com meus olhos agradeço-a por me fazer dançar ao seu lado ao
invés de assisti-la. E ela responde com o mesmo olhar dizendo que apenas me
estendeu a mão, como fez com tantos outros, tinha muitas mãos e muitos pés.
As cortinas vermelhas se fecham e vou embora não mais
acordado, mas sonhando em voar ou inventar qualquer outra coisa de novo na
próxima apresentação.